DISFUNÇÕES
E CRISE
(por
Maynard Marques de Santa Rosa)
São
peremptórias as constatações do historiador russo, general Dmitri Volkogonov, sobre
as disfuncionalidades que, a longo prazo, inviabilizam um regime comunista: “monopólio
do poder por um partido político único, controle total da administração e da
sociedade e, no topo, um ditador absoluto”. Como ex-diretor da KGB e
responsável pelos arquivos secretos, ele teve amplo acesso a informações
privilegiadas e as trouxe a público em seu livro Os Sete Chefes do
Império Soviético, desnudando as falácias da fatalidade marxista.
O projeto
leninista, construído sobre o conceito de luta de classes, só conseguiu se consolidar
pelo emprego da violência, para massificar uma sociedade passiva, iludida na
promessa do paraíso material. Contudo, a necessidade econômica foi mais forte
do que a ideologia de Lênin, e ele teve de introduzir a NEP (nova política
econômica), que autorizava as atividades microeconômicas, para evitar o colapso,
relativizando o princípio da planificação desde o início.
Enquanto
a população se manteve fascinada e mobilizada, o regime vingou. Quando
sobreveio a estagnação e o desencanto, o declínio foi fatal, até o colapso.
Na China,
a economia subsistiu, graças à catarse de Deng Xiaoping, embora ao preço da
renúncia à ideologia, para transmudar-se em “socialismo de mercado”, uma forma
primitiva de capitalismo de estado. Mas, permanecem vivos os fundamentos
leninistas da ditadura do partido único e do controle social, o que torna
incerto o futuro do país.
O fato é
que o socialismo de economia planificada está morto no mundo das sociedades
mais amadurecidas. Na América Latina, porém, onde a formação social é recente, o
povo conserva idiossincrasias culturais que podem viabilizar projetos de poder
de inspiração ideológica, como ocorreu na Venezuela.
No Brasil,
predomina a mentalidade individualista, que transige com costumes
patrimonialistas, clientelistas e de corrupção, favorecendo o populismo
político e o proselitismo ideológico. O último resultado eleitoral, embora impreciso
pela suspeição do processo eletrônico, mostrou que metade do eleitorado ainda tolera
a corrupção e absolve o crime, pela escolha de um candidato condenado em três
instâncias judiciais por delitos reconhecidos.
Evidentemente,
não é possível confrontar as circunstâncias. Da mesma forma, não se pode abdicar
dos valores transcendentes que sustentam a sociedade tradicional. Portanto, o
impasse está instalado, fraturando a sociedade pela metade.
A crise
em curso foi provocada por quem tinha o dever de garantir a lei, mas preferiu
relativizá-la em benefício de interesses políticos, violando a ordem moral.
A ordem em
geral precisa ser restabelecida no nosso país.