NOVOS CONCEITOS NA GUERRA DE NOVA GERAÇÃO RUSSA.
Ideias Para Discussão: END.
Pinto Silva Carlos Alberto[1]
1. GUERRA DE INFORMAÇÃO RUSSA.
O Ocidente considera as medidas não militares como formas de evitar a guerra, enquanto a Rússia as considera armas de guerra.
Ao contrário das operações de informação, a Guerra de Informação não está definida na doutrina militar. A 'Guerra de Informação' engloba ações ofensivas e defensivas na dimensão informacional, destinadas a obrigar adversários a se submeter à vontade de um ator por meio do emprego de operações cibernéticas, operações psicológicas, guerra eletrônica, segurança de operações e dissimulação militar.
Um documento sobre estratégia russa de 2011, "Convention on International Information Security" ("Convenção sobre Segurança de Informação Internacional"), define Guerra de Informação como um "conflito entre dois ou mais Estados no espaço informacional com o objetivo de causar danos a sistemas, processos e recursos de informação, bem como a estruturas de vital importância e de outra natureza; minar sistemas políticos, econômicos e sociais; realizar campanhas psicológicas em massa contra a população de um Estado para desestabilizar a sociedade e o governo; e forçar um Estado a tomar decisões no interesse de seus oponentes".
Na tomada da Crimeia pela Rússia, em fevereiro de 2014, as ações de Guerra de Informação incluíram, entre outras atividades, "o envolvimento da população local por meio de entrevistas, (pesquisas de opinião) comícios de referendo e reuniões disseminação em massa de mensagens; corte de cabos de fibra óptica; desativação das instalações de canais de televisão ucranianos, substituindo-os por canais russos; ataques de guerra eletrônica contra sistemas de comunicações militares ucranianos; desfiguração de sites ucranianos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN); divulgação de gravações telefônicas e e-mails entre autoridades da Ucrânia, União Europeia e EUA; criação de sites falsos em que a Rússia visou organizações militares ucranianas utilizando as contas de redes sociais de seus integrantes; utilização de sites reais (Facebook, Twitter, Odnklassniki, Vkontakte) para espalhar o pânico e boatos; e ataques distribuídos de negação de serviço em que se enviaram milhares de mensagens de texto e chamadas telefônicas para os celulares de líderes militares e civis, a fim de impedi-los de se comunicar e responder às ações russas"
Os papéis das duas dimensões, operações letais e operações de informação, foram invertidos. Em vez de representarem uma operação de apoio, as campanhas de informação passaram a ser a operação apoiada.
2. DISSUASÃO RUSSA.
A dissuasão estratégica "é o conjunto de instrumentos, que utilizam o poder de influência (soft power) e poder coercitivo (hard power), mediante o emprego de ferramentas de (des)informação, cibernéticas, econômicas, militares e políticas, tanto ofensiva quanto defensivamente, de modo contínuo, independentemente de ser tempo de paz ou guerra, em busca de prevenir conflitos violentos, reverter a escalada de conflitos militares (ou cessá-los no início) ou estabilizar situações político-militares em (potenciais) (coalizões de) Estados de interesse adversários, em condições favoráveis para a Federação Russa".[2]
A dissuasão não cessa após a eclosão de um conflito. Ela continuará a empregar seus instrumentos ao longo de todas as fases de uma crise político-militar, na tentativa de controlar sua escalada e garantir condições favoráveis.
Conforme se observou desde a Crimeia até a Geórgia, o foco na dissuasão de nível mais elevado de forças convencionais e nucleares permitiu que a Rússia alcançasse seus objetivos nacionais por meio de uma variedade de instrumentos não letais.
Instrumentos não letais afetaram significativamente a capacidade das formações táticas para dissuadir ou vencer um conflito.
3 GUERRA DE INFORMAÇÃO: VISÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
Embora a doutrina do Exército dos EUA assinale que "no conflito moderno, a informação passou a ser tão importante quanto a ação letal para determinar o resultado das operações", os integrantes de formações táticas têm uma capacidade limitada para compreender ou influenciar o ambiente informacional. Observe-se que a doutrina se baseia no pressuposto de que a guerra de informação só será executada nos níveis operacional ou estratégico. Isso é questionável, considerando o atual ambiente de ameaças. Como as formações táticas serão significativamente afetadas pela guerra de informação do inimigo independentemente da fase do conflito, elas devem ter a capacidade de entender e influenciar o ambiente informacional. Sem essa capacidade, os adversários continuarão a definir as condições da competição e conflito futuros.
O Exército dos EUA reagiu vagarosamente à guerra de próxima geração e está tentando recuperar essa defasagem, reestruturando seu Comando Cibernético com o objetivo de sincronizar as capacidades da Força para mudar a forma de condução a Guerra de Informação. Isso será realizado por meio da integração e emprego de diversas capacidades para oferecer aos comandantes opções para competir abaixo do nível do conflito armado.
Não obstante essa nova mentalidade, existem desafios para implementar essa diretriz no nível tático:
- "Falta de entendimento do ambiente informacional;
- Integração do ambiente informacional no processo operacional (Isso faz parte de um desafio institucional maior: a ideia de que a "vitória" só pode ser alcançada com operações de combate letais);
- Incapacidade de integrar multiplicadores de força;
- Coordenação ineficaz com parceiros civis;
- Relutância em reconhecer que a guerra de informação afeta a manobra; e
- Falta de instrução e treinamento contra guerra de nova geração".
4. RESUMO DAS IDEIAS APRESENTADAS PELO AUTOR, JAMES DERLETH,[3] DO ARTIGO BASE UTILIZADO NO TEXTO
A dicotomia 'guerra e paz' já não é um conceito útil para se pensar sobre segurança nacional ou operações táticas. Estamos em um estado de competição e conflito que é contínuo e dinâmico, pode alcançar seus interesses nacionais abaixo do limiar de conflito por meio de operações não letais centradas na Guerra de Informação.
Em um artigo publicado na revista militar russa Military Thought, I. Vorobyev e V. Kiselyov observaram: "A informação agora é um tipo de arma. Não apenas complementa ataques de fogos e manobras, mas os transforma e os une". Assim, "a informação vem se transformando em uma luta armada por si só".
Para derrotar ameaças multidimensionais, as formações táticas devem ser capazes de entender e influenciar o ambiente informacional. A natureza das ameaças emergentes (por exemplo, fogos de precisão de longo alcance, sistemas de defesa antiaérea em múltiplas camadas, drones, guerra eletrônica, ataques cibernéticos etc.) indica que as futuras operações militares serão conduzidas por unidades táticas. É por isso que, a Rússia tem modificado sua estrutura de força, passando de divisões para formações de escalões mais baixos (brigadas e batalhões).
A Rússia acredita que o êxito no atual ambiente operacional requer que as formações de escalões mais baixos tenham certa autonomia e capacidade para executar várias missões, porque os fatores citados anteriormente limitarão seriamente a possibilidade de que os escalões superiores lhes apoiem. Isso inclui "subunidades de guerra psicológica e de confronto informacional".
Até que o inimigo reconheça que o espaço informacional não é apenas uma dimensão de conflito, mas também o centro de gravidade, enfrentaremos duas claras alternativas: tolerar desafios não convencionais ou escalar tais desafios
Isso deixa os EUA em uma posição de enorme desvantagem contra adversários que têm utilizado a informação como arma para influenciar e moldar interações em diferentes domínios em apoio à manobra tática integrada de armas combinadas.
MAIS DADOS ENCOTRADOS NO LINK:
[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.
[3] A Guerra de Nova Geração Russa Dissuasão e vitória no nível tático, de James Derleth, Ph.D. Publicado na Military Review de Janeiro de 2021)