O BRICS E A ORDEM MUNDIAL DOMINADA PELO OCIDENTE.
Ideias Para Discussão: END.
(Um trabalho de pesquisa)
Pinto Silva Carlos Alberto[1]
O funcionamento do BRICS foi um dos temas discutidos durante o encontro entre Lula e o presidente chinês, Xi Jinping.
O Brasil precisa de um projeto nacional. O BRICS seria uma aliança estratégica visando uma ordem mundial alternativa?
Verdade ou veleidade?
1. RÚSSIA.
Quando a União Soviética caiu, em 1991, a esperança dos liberais e democratas russos era a de que a jovem Federação Russa, dotada de uma nova economia de mercado e liberdades políticas, "voltaria à Europa".
Em vez de integrar a Rússia ao sistema euro-atlântico, os norte-americanos e os europeus ocidentais começaram a se proteger contra o potencial renascimento das grandes ambições de Moscou.
Forjou-se, para muitos russos, um cenário ideológico em que "o ocidente" é constituído de inimigos claramente voltados contra a "civilização russa".
A narrativa repousa em uma "identidade de vítima", na qual ela, Rússia, está sob constante ataque do Ocidente – político, cultural e territorial.
O principal objetivo político da Rússia, conforme descrito pelo Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, é ver o fim da ordem mundial dominada pelo Ocidente.
Para a Rússia, seria importante na defesa dos seus interesses uma ligação multilateral forte com os principais países da Organização de Cooperação de Xangai (OCX).
A OCX pode favorecer a ambição geopolítica russa de abrir passagem desde o Sul do Cáucaso para mares quentes do Oceano Índico.[2]
2. CHINA.
A OCX representa mais da metade da população mundial e cerca de 25% do PIB global, além de reunir duas potências nucleares, Rússia e China, e outros dois países, Índia e Paquistão, também integrantes do seleto grupo de nove países detentores de armas nucleares. Na fila para a admissão como próximo membro pleno, está o Irã, outra das potências emergentes que estão balizando o novo cenário global multipolar.
Outros membros observadores são o Afeganistão, Bielorrússia e Mongólia, enquanto o Azerbaijão, Armênia, Camboja, Nepal, Turquia e Sri Lanka são parceiros de diálogo.
Essa "nova" política asiática da China corre o risco, entretanto, de ser um conto de fada para as pretensões da Rússia, ao depender demasiadamente da China, dada a atual prioridade chinesa para a conquista de maior influência na configuração global do poder, não pela via bélica e sim pela via dos mecanismos frios da economia, o que implica boas relações com parceiros ocidentais de peso, a começar pelos EUA e UE.
3. BRICS
É um dos poucos organismos globais não dominados pelo Ocidente.
Alguns índices econômicos apontam que os Integrantes do BRICS têm potencial para se tornarem economias dominantes em pouco tempo, juntos eles detêm 26,46% do território do planeta e, aproximadamente, 40% da população mundial. Além disso, um terço do produto interno bruto (PIB) do planeta.
A falta de sinergia entre os integrantes do BRICS se reflete em seus modestos laços econômicos – exceto quando se trata da China. Entre os parceiros comerciais da Rússia em 2020, a China ficou em terceiro lugar (11,3% do total) e a Índia em décimo (1,2%). No caso da China, apenas a Rússia (nona com 2,2 por cento) e o Brasil (décimo com 2 por cento) estavam no top10. A China foi o segundo parceiro comercial da Índia (9,2%), do Brasil (17,1%) e da África do Sul (12,8%). Os outros BRICS não figuram entre os dez maiores parceiros destes três últimos países, com exceção da Índia no comércio externo da África do Sul (quinto com 4,4%).
Devemos considerar que países membros individuais, em particular a China, são influentes, mas coletivamente a influência do grupo BRICS é mínima. Sua lassidão foi assinalada por acontecimentos recentes: a desaceleração do crescimento econômico chinês, as recessões na Rússia e no Brasil, o permanente atraso da Índia e a quase irrelevância da África do Sul.
Uma vez que os conceitos impalpáveis adquiriram fundamentos de verdadeiros, a ascensão dos países BRICS passou a expressar, para alguns, uma tendência maior a mudança do poder global do Ocidente para o Leste.
Chama a atenção, mais ainda, a alegação de que os BRICS formam a base de uma nova ordem multipolar. Isso é uma utopia. Mesmo quando se tem em conta a brevidade da existência dos BRICS, é evidente que não há uma grande unidade dentro do grupo para montar um desafio ao Ocidente ou instituições como o FMI e o Banco Mundial, ou a mudança do poder global do Ocidente para o Leste.
A ideia dos BRICS como uma ordem mundial alternativa está tão longe da realidade e nenhum de seus membros, à exceção da Rússia, deposita qualquer esperança nisso.
Os objetivos e aspirações dos países componentes dos BRICS são incompatíveis?
As principais preocupações da China estão em outro lugar, usa a geoeconomia para atingir
seus objetivos geopolíticos. A Índia tem assumido um perfil pragmático, participa do
QUAD[3], compra armas e petróleo da Rússia, consciente de restrições estratégicas como manter os Estados Unidos do seu lado, tendo os BRICS como prioridade secundária. As dificuldades crônicas do Brasil (Econômicas e de Poder Militar) e a tirania da distância limitam severamente sua influência para além da América Latina. E a presença da África do Sul é essencialmente para aumentar as credenciais globais do grupo.
4. CONCLUSÃO.
O BRICS tem grande importância estratégica para a Rússia na defesa do seu objetivo de ver o fim da ordem mundial dominada pelo Ocidente.
O grupo, notadamente, evoluiu desde sua criação, deixando de ser meramente um agrupamento de economias emergentes com previsão de crescimento econômico para se tornar um agrupamento político, no entanto ainda há um "longo caminho a percorrer" para que o BRICS faça frente aos países hoje considerados desenvolvidos, e busque o fim da ordem mundial dominada pelo Ocidente.
Fontes de consulta:
- Brics Importante Para Retomada Da Economia Brasileira, Dizem Especialistas.
- A ilusão da convergência — Rússia, China e os BRICS
Link: https://passapalavra.info/2017/03/111248//
- A Integração da Eurásia do Século XXI.
Publicado na DefesaNet em 14/05/2023
[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.
[2] Índia, Paquistão e futuramente Iran.
[3] "QUAD", Diálogo de Segurança Quadrilateral firmado em 2007 entre Austrália, EUA, Índia e Japão.
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